quarta-feira, 29 de abril de 2015

Foi massacre, sim!

Se você tem acesso à internet, deve ter visto alguma coisa sobre greve e manifestação de professores do estado do Paraná nessa semana. Também deve ter visto alguma foto ou vídeo de manifestantes feridos, bombas explodindo, balas de borracha sendo disparadas, sprays de pimenta, gás lacrimogênio, ATÉ cachorro pitbull marcou presença no que a mídia preferiu chamar de "confronto". Globo.com, por exemplo, estampou a manchete: "Professores e polícia entram em confronto durante votação na Alep" - o confronto foi o seguinte: policiais entraram com as balas de borracha e bombas de efeito moral e os professores entraram com a cara e com a coragem. Até procurei algum deles para me ajudar a diferenciar "confronto" e "massacre", mas estavam todos na enfermaria. Então, vou chamar de massacre mesmo. Ainda que não houve nenhum professor assassinado (ou devo dizer: morto ao acaso?), a PM, subordinada ao governador do Paraná, Beto Richa/PSDB, entrou para guerrear realmente, tinha até tropa de elite no esquema. É só dar uma googlada e procurar por vídeos que circularam nas redes, que você vai ver que o clima não era dos mais amigáveis.


Aí alguém vai dizer: "mas os professores estavam tentando invadir a assembléia legislativa. Aquilo não era professor, era vândalo". Porra! Eu acho engraçado falarem "tentaram invadir" a assembléia. Oras, a assembléia não é pública e "abriga" deputados eleitos pela própria população? Então, devo chamar de invadir? E ainda que os professores tenham usado de força em seus protestos, imagino que nada justifique o terror que a PM colocou, não é mesmo? E ainda que os profs queiram balançar o coreto e agir na raça, quebrando patrimônios públicos para chamar a atenção das autoridades e da mídia, eu tô com eles. A mídia e as autoridades estão pouco se fudendo para os professores. Desde que nasci, eu ouço falar em greve de professores, em todas as esferas e, geralmente, ninguém liga. Depois de um mês, dois meses, três meses em greve, o governo dá um aumentozinho de salário (quando é essa a reivindicação) e acalma os nervos. E adivinhem o porquê que os professores do Paraná protestavam? (Se segura aí que é a cereja do bolo) o governo do estado quer USAR a previdência DOS SERVIDORES para pagar uma dívida PÚBLICA. Os professores SÓ queriam acompanhar a sessão que iria votar o projeto que promove mudanças na Previdência, a fim de resguardarem os seus direitos. E, mesmo com todo o massacre, não adiantou nada: os deputados aprovaram as emendas do projeto do Paraná Previdência por 31 a 19. E olha que teve gente por aí recriminando os professores - galerinha que pede educação (da boca pra fora), mas está cagando para a real situação deles.

Desenrolares da história e lições que podemos tirar: 

1) Educação é uma arma poderosíssima, afinal, mesmo sucateada como está, quem tenta fazer algo por ela ainda mete medo e provoca reações de truculência.

2) A polícia militarizada pouco combate violência, pouco combate crimes e, pelo visto, podemos concluir que só serve como instrumento de repressão. Está se mostrando como um braço armado dos governos estaduais.

3) Existem policiais com um pouco de humanidade ainda. Para ser mais exato, fontes ligadas à polícia informaram que 17 policiais foram presos por se recusarem a participar do "cerco". (O governo negou a informação, mas a OAB do Paraná ainda irá investigar). 

4) A mídia cada vez mais prova que tem seus queridinhos que ela adora blindar. Prova disso é que em protesto para impeachment da presidenta, rolou chamadinha de 5 em 5 minutos na TV aberta para mostrar cada detalhe, o protesto dos professores do Paraná ganhou uma cobertura muito mais discreta (estou sendo eufêmico ainda). 

5) Se foram mais de 200 feridos no tal do "confronto" e todo o sangue derramado foi de UM LADO SÓ, então eu chamo de massacre, sim!


Ainda teve esse policial aí que tomou uma surra do pé de amora e queria culpar os professores.

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Ganhador do Oscar, de melhor, ator coadjuvante e não sabe usar vírgulas nem ponto de interrogação?