terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

"Novas" Marchinhas de Carnaval BR2017

Neste Carnaval, não deixe de cantar (e dançar) a sua marchinha favorita nas versões reatualizadas BR2017:

1.     Allah-la Ô ♪♩


Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
O grande acordoôô, ô ô ô ô ô ô


Atravessamos a Paulista junto com os “canalha”...
“Tiramo” foto com os PM
Com a catraca liberada

Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
O grande acordoôô, ô ô ô ô ô ô

2.     Óh abre-malas ♪♩


Óh abre malas
Que eu vou liberar
Óh abre malas
Que eu vou liberar

Era safira
Não posso negar
Diamante e ouro

Mandei exportar

3.     Carequina do José ♪♩


Olha a carequinha do José
Será que ele é
Será que ele é
(vampiro)

Será que ele é “Nosferatu”
Será que ele é de “Stoker”
Parece tá desfalecido
Mas morto eu sei que ele não é.
(corta a propina dele)

(corta a propina dele)

4.     Perrela eu quero ♪♩


Perrela eu quero, Perrela eu quero, 
Perrela eu quero cheirar! 
Bota a carreira! Bota a carreira!
Bota a carreira pro nenê não chorar!

Dorme filhinho, dorme no Leblon! 
Que seu helicóptero já vai chegar no chão. 
Eu tenho uma irmã que se chama Andréa
Que sempre que eu preciso, ela me interna.

5.     Angorá quer ser ministro ♪♩


Ê, ê, ê, ê, ê, O Angorá quer ser ministro, 
Se não der o pau vai comer!

6.     Doutor, houve um engano ♪♩



Doutor Moro, houve um engano,
Meu coração é de tucano 

Doutor Moro, houve um engano,
Meu coração é de tucano

7.     Nós, os Carecas ♪♩



Nós... nós os carecas
Com o senado somos maiorais
Pois na hora da sabatina
É do Moraes que eles gostam mais

8. Me dá um governo aí
♪♩
  

Ei você aí, me dá um governo aí
Me dá um governo aí.
Ei você aí, me dá um governo aí
Me dá um governo aí.

Não vai dar?
Não vai dar não?
Você vai ver, o grande acordão

O Eduardo vai fazer você cair
Me dá, me dá, me dá, oi!

Me dá um governo aí.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Reforma do Ensino Médio (desculpe o tom ameno)


Educação é um tema complexo, que não dá para ser resumido em palavras de ordem: “por uma educação de qualidade”, “por melhorias na educação”, “educação é a base de tudo” etc. As variáveis que rondam esse campo são praticamente infinitas e acredito que todos nós, cidadãos, reconhecemos que uma reforma da educação é urgente e necessária, mas certamente também concordamos que, pela complexidade da questão, isso não pode ser feito a toque de caixa. Dependemos, portanto, de debate público qualificado, com o envolvimento de especialistas e sociedade em geral, a fim de se elaborar um plano que dê base para mudanças efetivas e eficazes.

Se isso é praticamente um consenso, por que aceitaríamos uma reforma do Ensino Médio, encaminhada por Medida Provisória do Governo Federal, sem a participação do poder legislativo, sem um amplo debate na sociedade, sem a opinião de estudantes e professores? Aceitamos. E estamos aceitando muito mais. Vale pesquisar por PEC 241, PLP 257, PL 4567. A MP do Ensino Médio é só a cereja do bolo do caos ao qual a nossa educação está fadada. Se você achava que não dava para piorar, saiba: existem profissionais qualificadíssimos para fazer tudo ficar ainda pior.

Adoram comparar o país à uma empresa. Que fique claro, então, que estão fazendo um desinvestimento e às pressas. Sinceramente, reflita aí na sua cabecinha: o que adianta, a essa altura do campeonato, impor uma mudança drástica no Ensino Médio e ignorar as outras bilhões de variáveis que cercam a educação no Brasil? Isso não chega nem a ser gambiarra, porque gambiarra consegue quebrar um galho. O que está acontecendo é, além de jogar dinheiro fora, instaurar um caos nas escolas do país, prejudicar a vida de milhões de estudantes e carimbar de uma vez por todas a pecha de país subdesenvolvido.


Uma medida provisória tem poder imediato de lei, afronta a democracia que deveria guiar decisões educacionais, expressa autoritarismo e flerta ideologicamente com os decretos-lei que eram instaurados em nosso período de governo ditatorial. Então, já vigoram todas as mudanças propostas para o Ensino Médio, que deverão ser implementadas obrigatoriamente em dois anos, caso o congresso não barre, o que dificilmente vai acontecer, vide as relações cor-de-rosa entre deputados e o “presidente”. Provavelmente, com uma mudança ou outra em seu texto (discutida por engravatados que mal sabem da situação educacional do país), a medida provisória deve virar lei.
 
Um résumé do novo menu

1.     O Ensino Médio passará a ser em tempo integral. Pulará de 800 horas anuais de carga-horária para 1.400. Isto é, precisará de 7 horas diárias para atingir a nova carga-horária estabelecida.

Como fica o caso de estudantes que precisam trabalhar? Como poderá ser ofertado o Ensino Médio no período noturno? Como resolver o problema da superlotação, que já é gravíssimo, e ficará ainda pior com um turno a menos? A evasão das escolas será ainda maior? Soluções para esses problemas a Medida Provisória não apresenta.

2.     O Ensino Médio será dividido por 5 eixos: linguagens; matemática; ciências da natureza; ciências humanas; e formação técnica e profissional. O ensino de Arte, Educação Física, Filosofia e Sociologia não será mais obrigatório nos anos do Ensino Médio. Somente Matemática, Língua Portuguesa e Língua Inglesa serão disciplinas obrigatórias dentro dos 5 eixos.

Trocando em miúdos isso quer dizer que, no papel, todas as disciplinas podem continuar, mas, na prática, só Matemática, Língua Portuguesa e Língua Inglesa serão obrigatórias e o estudante ainda poderá “escolher” outra(s) área(s) de interesse. Claro que essa “escolha” dependerá de cada escola. Isto é, cada instituição de ensino ficará responsável por alguma área de especificação. A escola próxima à casa do estudante pode não ofertar o que ele quer. Ou seja, caso não haja vaga na área que você quer na escola X, você terá que fazer o que sobrar na escola Y. Não é legal poder “escolher”? A não obrigatoriedade de várias disciplinas resultará em uma formação capenga. E, mesmo se a escola, por um ato de bravura, quiser manter tais disciplinas, isso será impossível (logo mais você saberá o porquê disso no item 5).

Além das disciplinas que já se tornarão facultativas, como a MP não regulamenta o que cada escola deverá oferecer, é possível que uma instituição não oferte componentes comuns hoje em dia, como: História, Geografia, Química, Física, Biologia etc.

3.     A lei nº 11.161, que dispunha sobre a obrigatoriedade de se ofertar o ensino de Língua Espanhola no Ensino Médio, foi revogada. Ou seja, a única língua estrangeira que as escolas deverão ofertar obrigatoriamente é o inglês.

Isso quer dizer que todos os gastos para que se implantasse a Língua Espanhola como possibilidade no Ensino Médio serão jogados fora. Reforçará a ideia de Língua Inglesa como única segunda Língua possível. Isso mesmo, em um país da América Latina.

4.     Os conteúdos cursados durante o ensino médio poderão ser convalidados para aproveitamento de créditos no ensino superior, após normatização do Conselho Nacional de Educação e homologação pelo Ministro de Estado da Educação.

Mal consigo prever o caos que isso pode trazer, porque não faço ideia de como isso funcionaria na prática. Mas basta ter cursado uma disciplina com viés técnico no Ensino Médio, que ela será eliminada no Ensino Superior, não necessitando de um aprofundamento nos cursos de Graduação.

5.     A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e duzentas horas da carga horária total do ensino médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.

Isso quer dizer que as atuais 2.400 horas, que são destinadas ao cumprimento do conteúdo da Base Nacional Comum Curricular, terão que caber em 1.200 horas. Ou seja, a formação geral, cultural e científica dos estudantes é reduzida pela metade e não ampliada, como as manchetes dizem. O tempo restante se volta para a parte técnica, isto é, para o mercado de trabalho. Pontos essenciais do princípio educativo teriam que ser excluídos: a formação ética, estética e científica, por exemplo, seria ainda mais escassa. O tempo integral, então, seria para formar mão de obra e não cidadãos pensantes, com senso crítico, capacidade de reflexão, questionamento, raciocínio etc.

6.     Poderão exercer a docência os trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim e profissionais com notório saber reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino.

Claro que há uma carência de professores qualificados para diversas áreas e evasão nos cursos de licenciatura, mas ao invés de resolver este problema na raiz, apenas legitima-se uma prática comum – e precária – de hoje em dia: professores sem formação adequadas às disciplinas que lecionam. Qualquer um, não precisa ser especialista, nem nada, saberia como resolver este problema: estimular a formação de professores/estimular a entrada nesta carreira. Para isso, o Governo deveria pensar em dar melhores condições de trabalho aos docentes, em fazer mais investimentos nos cursos de licenciatura e estabelecer salários mais atrativos para os professores, para que a profissão também seja mais atrativa.

**
Como podemos ver, a MP é um desinvestimento e deixa de tocar em questões cruciais para uma real reforma: ações para formação de professores e valorização da carreira docente; condições materiais para que as escolas possam oferecer, com qualidade, currículos amplos e diversificados; indicativo de diretrizes para projetos de escola de tempo integral ou indicativo de legislação complementar a este respeito; como respeitar a Base Nacional Comum Curricular que não caberá na carga-horária prevista?; como lidar com o estudante que, ao ingressar em uma Universidade, tenha vontade de cursar uma outra área que ele não tem o conhecimento básico? Refaz o Ensino Médio?

São muitas perguntas, muitas questões e muitos problemas. Peço desculpas pelo tom ameno desta publicação. O texto merece um tom muito mais duro, sobretudo por causa das outras mudanças que afetam totalmente nesta: PEC 241, PLP 257, PL 4567 (sério, pesquisem!). Por enquanto, escrevo mais como informação, mas voltaremos a esses assuntos. Leiam os artigos e tirem suas conclusões.

Diretrizes e bases da educação nacional:

Medida Provisória nº 746 (que “reforma” o Ensino Médio):

PEC 241 (que limita os gastos públicos em saúde e educação por 20 anos):

PLP 257 (pacote de ajuste fiscal que atinge diretamente os servidores públicos):
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1445370&filename=PLP+257/2016

PL 4567 (que retira a obrigatoriedade da participação da Petrobras na exploração do pré-sal, que renderia recursos para saúde e educação, permitindo a total atuação de empresas privadas):

domingo, 2 de outubro de 2016

Não é só domingo

Começo o texto me dirigindo aos jovens que votaram pela primeira vez na última eleição: jovi, não desanima, pode ser que dessa vez o seu voto finalmente valha de verdade. Também acreditando nisso (ok, nem tanto), escrevo este textinho e tiro o blog do coma.

Quem andou em coma também foi o nosso interesse em falar de política. Coma do tipo: desde que nasceu. Mas parece que nos últimos tempos o gigante acordou abriu pelo menos um olho (não vou falar qual para não dar briga). Ainda por cima esse olho é míope.

O que eu sei é que os feice da vida ficaram infestados de gente falando de política, discutindo ideologia, batendo em projeto de lei, fazendo barulho contra medida provisória, compartilhando catraca livre, esgoelando Bolsomito 2018 (nessa hora a gente pega uma gilete bem afiada, passa veneno na lâmina e corta bem cortadinho a pupila do olho). 

Mas voilà: saiu gente de tudo quanto é bueiro para falar de candidato, xingar o amigo, mandar um: me bloqueia aí que eu odeio você seu coxetralha. Até primo de 3º grau clicando no emoji de Grr (aquele com cara de putasso) na sua publicação teve. E isso foi ruim não, mas ainda está torto de mais. Virou vídeo-game em que meu bonequinho é mais forte do que o seu e parece que ficou nisso, com salvas exceções.

Mas ótimo. Se o Cunha caiu (com um certo delay) está valendo (o Cunha caiu mesmo?). Ainda na metáfora do vídeo-game: a gente ainda não sabe jogar porra nenhuma, mas às vezes aperta todos os botões de uma vez só e acaba matando o Ryu bugado do fliperama que solta 15 hadoukens na tela (e isso é um grande feito).

Mas de eleições municipais, parece que a gente não sabe nem como que dá play no joguinho. É uma bagunça com 9327827847948 partidos aleatórios, caboco que era aliado do prefeito passado, agora é amigo do rival, o fulano está ajudando seu parente a ter um trampo e parece melhor votar nele do que naquele que você nem conhece, é candidato a vereador falando que vai asfaltar a sua rua, que vai aumentar o número de médicos nos postos de saúde, que vai dar tablete para as crianças, que vai fazer aplicativo que faz não-sei-o-que (que fetiche é esse por tablete e aplicativos para resolver o mundo?), é o cristão colocando no currículo que é cristão (parece relevante – para perder voto), é o pai de família (e daí?), é o jingle com malandramente: “João Vicente, aliou com o Tenente, é amigo dos crente, pode votar e curtir. João Vicente fez casa pra gente, envolvido com a obra, começou construir...”, é carreata, é menino balançando bandeira no sinal, é chão cheio de santinho e outras pataquadas à lá hoje é dia de maldade.

Vemos um ou outro programa eleitoral ali na hora do almoço, pegamos um pedaço do debate depois da novela, ouvimos falar em dois ou três figurões mais conhecidos para prefeito e os mesmos de sempre para vereador. Não temos o menor apego por partidos (nem eles têm, né?) e o pau quebra: quem aparece mais na campanha, quem tem mais gente trabalhando e conhece mais pessoas que pedem voto para outras pessoas, é eleito.

Mas o fato é que temos que obrigatoriamente apertar o verde e tilimlim (horrível essa onomatopeia). Mas em quem votar de fato? Às vezes nenhum candidato a prefeito agrada, não conhecemos nenhum candidato a vereador, não sabemos as propostas de ninguém, não sabemos se as fichas estão limpas. (E provavelmente vamos votar e continuar sem saber ou sabendo muito pouco).

Então, vale uma googlada no candidato. Mas vale muito também se interessar pela política de sua cidade nos 4 anos de atuação daquela equipe do executivo e do legislativo. É preciso saber o que o prefeito anda fazendo, o que os vereadores andam votando, se eles são de fato a sua voz na câmara, essas coisas clichêzonas que a gente costuma deixar pra lá. Importante saber também quem é o vice (nunca se sabe, né?).



Assim, visando aquele 1% de anjo-perfeito no meio de 99% de vagabundo nestas eleições municipais, segue um guiazinho (bem zinho) sobre as funções do executivo e do legislativo municipais:

Primeiramente, fora Temer.

Segundamente, vamos aos vereadores. Se eles estão prometendo: asfaltar a sua rua, construir hospital, creche, escola, centro esportivo, reformar praças e vias, gerar empregos, diminuir o valor da passagem do ônibus, aumentar o salário do professor, arrumar material escolar, colocar mais policiais nas ruas, remunerar melhor os agentes de segurança ou coisas do tipo, FUJA. Isso não é papel dele.

O vereador pode e deve elaborar leis municipais (que sejam do interesse da população; ele é sua voz na bagaça, ok?) e fiscalizar o prefeito. São os vereadores que propõem, discutem e aprovam as leis que entram em vigor no município. Por exemplo, eles aprovam a Lei Orçamentária Anual, que define onde deverão ser aplicados os recursos vindos dos nossos impostos (é bom ficar de olho nisso). Também cabe ao vereador acompanhar as ações da prefeitura, verificando se estão sendo cumpridas as metas de governo e se o prefeito está agindo dentro das normas legais. Por isso, é importante que uma parcela dos vereadores seja de oposição ao prefeito, para não virar jogo de compadres.

É claro que só saber disso não vale muita coisa. Mas vale saber que as sessões legislativas são abertas a nós, então, podemos, por exemplo, juntar um grupinho e ir lá fazer barulho quando eles forem votar algum projeto absurdo, como o aumento do próprio salário (que já não é baixo). Que tal pressionarmos para a diminuição de seus subsídios até virar lei? (Também é uma forma de atuar). Podemos ainda procurar os vereadores em seus gabinetes e ficar de cima, ajudar a fiscalizar e, se ele fizer alguma bobeira, podemos denunciar ao Ministério Público. Se quisermos, temos muito poder.

Em resumo, o papel central do vereador é ouvir a vontade de seus eleitores e não legislar em causas próprias. Vamos fugir desses e jamais os reeleger novamente, né?

Já o prefeito é o cara que tem a caneta e o cheque na mão. Cabe a ele administrar os serviços públicos locais, decidindo onde serão aplicados os recursos que vêm dos nossos impostos e dos repasses do estado e da União. Eles também decidem quais obras devem ser feitas e quais programas serão implantados. Também é função do prefeito sancionar e revogar leis, vetando propostas que sejam inconstitucionais ou não atendam ao interesse público (isso é um ponto importante, pois é aí que a gente entra fazendo pressão, basta querermos). Além disso, o prefeito também nomeia secretários (de Educação, Saúde, Governo, Transporte, Habitação, Meio-ambiente, Planejamento, Administração etc.) e os secretários também podem distribuir cargos de confiança. Não queremos uma prefeitura infestada de aliadinhos mamando nos cargos comissionados, sem que eles sejam realmente competentes, éticos e bons profissionais para as funções as quais eles foram designados, certo? Então, cabe também ficar de olho e fazer barulho se algo estiver errado.

Já o vice-prefeito tem que ser um homem de CONFIANÇA do prefeito e assumir a bucha quando ele estiver ausente. Ele deve saber que não é sua função querer derrubar o prefeito e colocar em prática outro plano de governo. Se ele se segurar e fizer tudo certinho, dá até para dizer que ele não é um vice decorativo, mas que busca colaborar com a prefeitura.


No mais, é ir votar morrendo de preguiça (naqueles que você julgar serem os melhores candidatos/ficar de olho neles nos próximos 4 anos) e esperar dar 17h para acabar a Lei Seca e ir para o bar beber.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Constitucionalização da corrupção

Aconteceu! Na última quarta-feira, 27 de Maio, agentes do FBI entraram em um hotel na Suíça e prenderam 7 poderosos chefões da FIFA por corrupção (subornos e esquemas de propinas estavam em jogo). Não era o Matt Demon, nem o Bruce Willis, muito menos o Martin Lawrence vestido de vovózona na operação. Aconteceu de verdade! E dentre os figurões presos, estava o octogenário José Maria Marín, penúltimo presidente da CBF.

A ficha do senhor Marín é extensa, mas aqui vai algum aperitivo: além de dirigente da CBF, Marín governou São Paulo entre 1982 e 1983, sendo o penúltimo governador de SP do regime militar. Também foi deputado do partido da ditadura ARENA, onde protagonizou discursos inflamados contra a esquerda; o mais famoso deles foi publicado em 9 de outubro de 1975 no Diário Oficial do Estado de São Paulo. O texto criticava a ausência da TV Cultura na cobertura de eventos de seu partido e exigia uma providência para que a "tranquilidade" voltasse a reinar no Estado. 16 dias depois, o jornalista e diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, foi torturado até a morte.

Clap-Clap, FBI. E que as investigações escavem a vida de Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero, João Havelange. Mexam também nas falcatruas de patrocinadores e de emissoras de televisão e averigue a porra toda para que quem dever possa pagar logo. 

Vale colocar algo sobre esse assunto entre parênteses (como que fica agora aquele ritual da família brasileira e do cidadão de bem em ir protestar contra a corrupção com a camisa da seleção brasileira?).


Trocando a pauta, mas ainda no campo da picaretagem: nem só de boas notícias é feita uma quarta-feira de Maio. Em mais um capítulo de House Of Cards Brasil, o nosso Frank Underwood brasileiro, Eduardo Cunha, mais uma vez agiu de modo duvidoso para legislar em causa própria.

Depois de uma baixa na noite de terça-feira, 27, Cunha “resetou o videogame” e conseguiu colocar em votação – novamente – a emenda que constitucionaliza a “doação” de empresas privadas para campanhas de partidos políticos. A emenda que não foi aprovada na terça dizia que as empresas poderiam doar para os candidatos dos partidos, e a que foi aprovada na quarta, só mudou para: “empresas podem doar somente para os partidos”. Se os partidos podem repassar a grana para os candidatos, deu na mesma. Ou pior, o retrocesso foi ainda maior. Antes, o processo de "doação" era mais transparente. Sabíamos para qual candidato iria o dinheiro de determinada empresa. Agora, os reais vão para a alta cúpula dos partidos que repassará aos candidatos: processo ainda mais obscuro.

Devo reconhecer que o Cunha é mesmo muito bom. O cara tem que ser muito sagaz para reverter em menos de 24 horas uma situação que já estava decidida. Às pressas, o texto foi aprovado por 330 votos a favor e 141 contra (Veja aqui qual foi o posicionamento do seu deputado). Além das manobras para essa votação, o presidente da Câmara ainda conseguiu posar com um discurso de: "estamos fazendo reforma política". Que reforma é essa que ao invés de melhorar, deixar mais transparente, faz totalmente o contrário?

Em resumo, PT, PDT, PCdoB e PPS foram os únicos 4 partidos que recomendaram voto contrário ao financiamento de campanha por empresas. Além do Psol, que tentou a obstrução da votação.

Vamos às análises. É claro que muitos parlamentares têm o interesse em constitucionalizar tal medida, eles já estão até com a alma do rabo presa com várias empresas privadas. (Mais claramente: muitos parlamentares já devem favores de campanha para os empresários). É uma via de mão dupla: eu, empresário, ajudo a financiar as campanhas do seu partido, você elege vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidente e depois devolve o favor facilitando uma licitação aqui e outra acolá. Equação simples.

Gostaria de ouvir as posições de você que me lê, mas me parece óbvio que os partidos que votaram a favor dessa emenda, de alguma forma, estão apoiando a corrupção. (Estou sendo eufêmico).

Ou você acha mesmo que o Sr. Odebrecht ou o Sr. Camargo Corrêa, com suas empresas com FINS LUCRATIVOS, vão chegar no PSouPTouPPouPMouPDouPVouPRouDEMalgumacoisa e dizer: "aqui está XX milhões de reais que eu estou doando para que vocês possam financiar suas campanhas eleitorais, porque eu simpatizo com a ideologia do seu partido, com certeza vocês são a melhor opção para o país."? Eu sei que você não acha isso, ninguém acha. O Sr. Odebrecht vai querer ganhar licitação para centenas de obras com cifras bilionárias, das quais ele vai superfaturar os seus bilhões - para embolsar uma parte - e injetar outra parte em outras campanhas do partido que o "ajudou" que, por sua vez, fará o famoso caixa 2. CORRUPÇÃO, caros. E com dinheiro PÚBLICO.

O que foi votado, amigos, é a constitucionalização da corrupção. Não há outra forma mais amena de eu chamar o que aconteceu. Agora eu pergunto: cadê a repercussão disso na mídia? Cadê a população protestando contra isso? Cadê os panelaços? Cadê as marchas? Cadê os patriotas de camisas amarelas nas ruas? Pelo jeito, vamos ter que aguardar o Bruce Willis se juntar com o Morgan Freeman para vir nos salvar.      

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Para os colunistas da VEJA e a todos que não têm empatia pelos professores


Descaso e falta de empatia pelos professores brasileiros: um assunto que parece não ter fim. Ainda mais quando colunistas da Revista Veja elucidam sobre ele.

Meu texto de hoje será divido em duas partes, uma para falar das recentes postagens do colunistas Vejano, Felipe Moura Brasil, e outra para falar sobre uma publicação antiga, também na Veja, de Maio de 2014, que está novamente pipocando nas redes, de autoria de Gustavo Ioschpe. O enfoque, mais uma vez, é a educação brasileira e como são tratados os nossos professores.

Primeiramente, quero dizer que me sinto muito confortável em escrever minhas opiniões aqui no Disperso. Pois, além de ser um espaço só meu e que só lê quem quer, ainda existem colunistas por aí, como o Felipe Moura e o Rodrigo Constantino, que escrevem tantas baboseiras na revista de maior circulação do país, que eu até fico "salvo" para emplacar uma bobaginha ou outra por aqui também.

Lembrando que o governador de SP, Geraldo Alckmin, já desembolsou 4 fucking milhões de reais em assinaturas da VEJA, Estadão e Folha de S. Paulo para várias escolas públicas do estado de São Paulo - tudo sem licitação. Mas o maior problema mesmo nem é esse, mas o jornalismo duvidoso que irá formar milhares de crianças (mas isso é assunto para outros capítulos, ainda que esbarre neste).

I

A última do Felipe Moura foi tentar deslegitimar o recente protesto dos professores no Paraná, que foram massacrados pela PM de Beto Richa, (assunto que eu falo em minha última postagem aqui no blog). O colunista Vejano disse o seguinte sobre o ocorrido:

Só tenho uma coisa a dizer sobre o “protesto de professores” no Paraná que “terminou em confronto com a Polícia Militar”:

Parabéns, manifestantes de 15 de março, 12 de abril e da Marcha Pela Liberdade, que nunca precisaram entrar em confronto com a PM na luta por um Brasil melhor.

Só isso mesmo que você tem a dizer sobre o assunto, caro Felipe? É muita cara de pau. Talvez os professores "precisaram entrar em confronto" com a PM, porque, diferentemente dos protestos do dia 15 de março e 12 de abril, a PM do Paraná não recebeu os manifestantes com buquê de flores e sorrisos para selfies no Instagram, mas com balas de borracha, gás lacrimogênio, pitbull e truculência. 

Alguns tuítes ótimos que li sobre o colunista Felipe Moura:

Felipe Moura Brasil é aquele abobado que ficava jogando água da sacada do prédio e corria pra dentro de casa pra dar boa risadas. (@Tonkiel)

Fico imaginando esse Felipe Moura Brasil digitando ferozmente no PC quando a enfermeira abre a porta e diz ˜tá aqui o seu remédio, sossega˜. (@fdvives)

Felipe Moura Brasil, também conhecido como colírio invertido: ao invés de limpar, ele turva a visão. Colírio obscurantista. (@fsouzajrJuca)

O professor Flávio Carneiro, pesquisador e crítico literário respeitado no meio acadêmico, que teve o desprazer de dar aula para Felipe Moura Brasil na UERJ, também deixou uma mensagem, rechaçada pelo ex-aluno em uma de suas colunas, que eu concordo plenamente:

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Outra pérola de Felipe foi dar um tom pejorativo ao Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro e também ao educador Paulo Freire, comparando ambos e chamando-os de teóricos políticos e ideológicos e descaracterizando os seus papéis como educadores. É muita petulância do colunista.

Feitas essas breves considerações sobre Felipe Moura Brasil e sua declaração na revista sobre as manifestações dos professores no Paraná, parto para a segunda parte do meu texto, uma crítica a um artigo também veiculado na Veja, cujo autor eu tendo a respeitar muito mais do que o primeiro.

II

O artigo em questão é de autoria de Gustavo Ioschpe, economista, administrador, cientista político e especialista em educação. Apesar da profunda formação de Ioschpe, ele andou derrapando em algumas questões em seu texto "Professores, Acordem!" - cliquem aqui para ler na íntegra. 

Esse texto de 2014 voltou a pipocar na internet, talvez em decorrência das declarações duvidosas de colunistas da Veja sobre o massacre aos professores no Paraná e o autor, apesar de se mostrar especialista na questão, parece desconhecer a realidade de muitos professores brasileiros.

Eu sei que é uma "morte horrível", mas vamos a alguns trechos do artigo de Ioschpe, que eu intercalo com alguns comentários próprios:

[...] nos últimos anos tenho chegado à conclusão de que falar com o professor médio brasileiro, na esperança de trazer algum conhecimento que o leve a melhorar seu desempenho, é mais inútil do que o proverbial pente para careca. Não deve haver, nos 510 milhões de quilômetros quadrados deste nosso planeta solitário, um grupo mais obstinado em ignorar a realidade que o dos professores brasileiros. O discurso é sempre o mesmo: o professor é um herói, um sacerdote abnegado da construção de um mundo melhor, mal pago, desvalorizado, abandonado pela sociedade e pelos governantes, que faz o melhor possível com o pouco que recebe. Hoje faço minha última tentativa de falar aos nossos mestres. E, dado o grau de autoengano em que vivem, eu o farei sem firulas.
Caro Gustavo, provavelmente ser professor é assumir a profissão (que exige curso superior) mais mal paga do país. Se você quer uma educação de qualidade, é muito duvidoso que questione se essa profissão é mal paga ou não. Nós sabemos que é mal paga. Quanto a isso não temos dúvidas, não é mesmo? Seriam os professores que são obstinados em ignorar a realidade ou a sociedade e os governos que costumam ignorar a realidade dos professores? Se os docentes vivem essa realidade marginalizada, com baixos incentivos salariais e de carreira, são negligenciados pelos governos e se sentem obrigados a assumir posturas que não lhe cabem, como a de educar os filhos de pais que, por questões sociais (ou não), não fazem esse papel, então, concluo que esse profissionais são heróis, sim. 
Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é a de profissionais competentes e comprometidos, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal). Quando vocês fazem greve - mesmo a mais disparatada e interminável -, os pais de alunos não ficam bravos por pagar impostos a profissionais que deixam seus filhos na mão; pelo contrário, apoiam a causa de vocês. É uma vitória quase inacreditável. Mas prestem atenção: essa é uma vitória de Pirro. Porque nos últimos anos essa imagem de desalento fez com que aumentassem muito os recursos que vão para vocês, sem a exigência de alguma contrapartida da sua parte. Recentemente destinamos os royalties do pré-sal a vocês, e, em breve, quando o Plano Nacional de Educação que transita no Congresso for aprovado, seremos o único país do mundo, exceto Cuba, em que se gastam 10% do PIB em educação [...]
Mais uma vez o senhor está equivocado. As lideranças que representam os professores não vendem um discurso de vítima, mas de indignação. É maldoso de sua parte desbarrancar toda a culpa da educação nas costas desses profissionais. O senhor supõe que a culpa da má educação no país é em decorrência da incompetência e da falta de comprometimento dos professores. Sabemos que descompromisso e incompetência estão presentes em qualquer área, mas o descaso com as licenciaturas é um dos grandes responsáveis para que isso ocorra na docência, talvez com uma profunda pesquisa, você irá chegar à conclusão de que a formação de professores no Brasil é muito insuficiente. Eu não pesquisei, mas acredito que isso seja uma hipótese em potencial. Imagine só se esses 10% do nosso PIB - que serão injetados na educação -, que o senhor parece criticar, fossem bem administrados e investidos na boa formação de professores, que pudessem atuar no mercado de trabalho com salários justos e com cargas-horárias igualmente justas? Já veríamos, possivelmente, um grande avanço que desarmaria os seus argumentos.
Outra falácia que o senhor expõe é a de que a população brasileira está do lado do professor, graças à imagem de coitadismo que foi criada. Bobeira! A sociedade em geral não dá muita bola para os professores. Às vezes até endossa as suas reivindicações, mas isso fica só da boca pra fora. Alcançaríamos um patamar outro, se de fato a população arregaçasse as mangas e lutasse juntamente com os professores por melhores condições em todos os âmbitos da educação, mas isso não ocorre efetivamente. Uma pena!
[...] Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês. Porque, quando essa enxurrada de dinheiro começar a entrar e nossa educação continuar um desastre, até os pais de alunos de escola pública vão entender o que hoje só os estudiosos da área sabem: que não há relação entre valor investido em educação - entre eles o salário de professor - e o aprendizado dos alunos. Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco. Vão descobrir que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar.
O senhor estava indo bem... Até concordo que investimento por investimento, dinheiro por dinheiro, não é garantia de um resultado efetivo. Mas querer culpar os professores pelo fracasso na educação brasileira é um absurdo tremendo. Como já disse, a formação de professores é capenga, a remuneração é baixa, os incentivos são nulos e o contexto é extremamente negativo. A escola brasileira, de fato, vive uma falência. Muitas escolas estão sucateadas, lotadas e sem investimentos. O professor pode, sim, ser desatualizado e desmotivado, mas por culpa dos governantes que não sabem administrar (e não se interessam também em colocar a educação nos trilhos) o dinheiro destinado à educação. Além disso, os professores têm que lidar com alunos que vivem em bairros miseráveis que, às vezes, não têm um saneamento básico decente, ocasionando na baixíssima motivação desses estudantes que, quando não vão para a escola sem a pré-educação dos responsáveis, vão desmotivados e sem objetivos que demandam estudo. 
Caro, Gustavo Ioschpe, não minta para os seus leitores no alto de suas verdades absolutas editadas na redação de uma revista como a Veja. A culpa pela educação não é dos professores, é social. É impossível crer que o senhor, especialista em temas como educação, credite toda a culpa da falência da escola brasileira nos professores. Isso é um desserviço para a sociedade. O senhor cita alguns efeitos verdadeiros, mas não se mostra capaz que apontar as reais causas. Se quer qualificação para os professores, toque na raiz do problema e não no fruto que foi gerado.
[...] abandonem essa obsessão por salários. Ela está impedindo que vocês vejam todos os outros problemas - seus e dos outros. O discurso sobre salário é inconsistente. Se o aumento de salário melhorar o desempenho, significa que ou vocês estavam desmotivados (o que não casa com o discurso de abnegados tirando leite de pedra) ou que é preciso atrair pessoas de outro perfil para a profissão (o que equivale a dizer que vocês são inúteis irrecuperáveis).
Gustavo Ioschpe, o aumento de salários para professores por si só não melhorará o seu desempenho, nisso concordamos. Mas, inegavelmente, quando se paga bem, melhores profissionais são atraídos, certos? Se se paga bem, o mercado formador de professores terá uma maior procura e, assim, poderá receber investimentos maiores e começar a regar a raiz do problema. Querer atrair mais pessoas para a profissão, não é atestar que os professores são inúteis, mas que foram moldados de forma problemática para atuarem em um contexto insalubre - há todo um ciclo de problemas, em que o professor é o que tem menos controle sobre eles.
Não há inúteis irrecuperáveis nas salas de aula do país, existem muitos profissionais mal formados, mas que, mesmo com toda a maré contra, são profissionais éticos, que buscam ser bons, coerentes e dedicados. Os problemas que você cita em seu texto não devem ser endereçados aos professores, caro Ioschpe. Você deve endereçar esses problemas aos governantes, que não sabem (ou não querem) fazer algo decente para a educação, principalmente nos níveis municipal e estadual, em que as escolas não têm infra-estrutura e nem planejamento compatíveis para um bom desempenho dos professores.
À revista Veja, mais uma vez, deixo minha indignação por, há muitos anos, forjar esse discurso contra professores que, além de todos os obstáculos que encontram na carreira, ainda são humilhados e, como vemos semana passada, até mesmo agredidos fisicamente, por quem deveria formá-los e remunerá-los decentemente. 

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Ganhador do Oscar, de melhor, ator coadjuvante e não sabe usar vírgulas nem ponto de interrogação?